Esta aventura começou quando, durante o período de quarentena, entrei em um grupo de WhatsApp com pessoas cheias de vontade de interagir mas sem assunto específico. Típico de amigos saudosos que se encontrariam num bar e tomariam uma cerveja enquanto passam um tempinho sendo amigos. É legal. Para quando não se tem muito assunto ou resposta, lança-se um sticker. Essas figurinhas de WhatsApp são evolução dos emojis que são evolução dos emoticons. 🙂 Ufa. Mas agora elas trazem mensagens e memes, expressam sentimentos efusivos ou só lançam frases bestas. A certa altura da ‘conversa’ apenas estas figurinhas apareciam na tela. A comunicação no whatsapp possibilita o uso de texto, som e imagem. Mas as figurinhas são uma categoria a parte. Elas não necessariamente querem comunicar algo. Por vezes, apenas desejam evocar alguma sensação ou reação (no caso das figurinhas, costumam provocar o riso). Este tipo de comportamento é comum à arte. E assim tive a ideia de usar o ambiente do WhatsApp como meio para expor arte usando as figurinhas como suporte.
A arte contemporânea permite que a produção aconteça não apenas fixada aos meios, mas também sendo simples subversão e estranhamento dos meios. Assim dá certo existir rádio-arte, por exemplo. E assim a auto-referência pode existir como arte e também se justifica a tomada de um meio como arte. E a tomada do WhatsApp como meio de circulação artística, por si, já seria uma obra contemporânea interessante. Mas no caso do que fiz juntei a isso a qualidade estética das imagens que estão sendo colocadas em circulação.
A originalidade sempre foi uma qualidade apreciada na arte. No livro ‘ A grande feira: uma reação ao vale-tudo na arte contemporânea ‘ (Civilização Brasileira – 2009) Luciano Trigo olha para esta qualidade colocando que muitas obras contemporâneas são apenas boas ideias, apenas piadinhas, boas sacadas, objetos com grande carga de originalidade – mas não grandes obras de arte. Não que eu considere de grande importância levar em consideração a opinião deste crítico para pautar minha produção, mas a essa colocação poderia responder, no caso de ser feita para a minha obra, que também foram exploradas as qualidades técnicas e teóricas solicitadas para conseguir um resultado estético relevante.
As técnicas exploradas, neste caso, passam pelo uso de softwares gráficos e da programação. Mas esta subversão do meio – no caso, o aplicativo de comunicação WhatsApp – tem um impacto maior na produção contemporânea do que a qualidade gráfica em si. O WhatsApp há muito tempo é usado como veículo de circulação dos convites para os locais de fruição das obras, não como o próprio meio de fruição das obras.
Como foi feito
Então pensei em fazer uma coleção de figurinhas abstratas, desarticuladas da função de comunicação que o meio solicitava e, assim como toda imagem abstrata, sem a carga da representatividade. Como demoraria um tanto para produzir isso, solicitei a meu amigo Rukin, grande parceiro de produção, que fizesse parte da coleção – o que ele fez com grande qualidade.
O WhatsApp gosta que se produzam figurinhas para ele. Por isso disponibilizou um kit quase pronto em que se seguem as instruções (muito bem detalhadas) e já tá lá o pacote. A parte mais complicada é baixar e usar o Android Studio, que requer uma máquina com bastante memória.
A intenção inicial era ter disponível na loja do Android o pacote de figurinhas agrupadas para que elas circulassem o máximo possível. Mas nesta etapa do trabalho vi que precisaria pagar uma taxa de US$25 para ter direito a publicar lá. O dólar está muito alto, então resolvi disponibilizar o arquivo .apk aqui mesmo e quem quiser baixa e instala no celular. Esta solução não é a melhor para a divulgação e circulação, mas a realidade do artista brasileiro não é muito cheia de dólares então é isso que teremos no momento.