Vou operar a válvula mitral no mês de junho de 2023. É uma operação complexa e por isso estou com medo de morrer. Estou procurando terapia para poder desenvolver este assunto e me sentir menos desconfortável com ele.
Colocado nesta perspectiva, começo a olhar para a vida para valorar as coisas. Claro que vem na memória todas as coisas que não fiz. E não fiz por pobreza de espírito. Por exemplo, acho o cúmulo eu até hoje não ter visitado Inhotim. Acho ridículo eu não ter conhecido mais o Brasil, não ter ido visitar mais amigos e parentes que estão espalhados pelo país. A minha justificativa é falta de dinheiro, mas tem alguma coisa sinistra por trás.
Eu gosto de colocar a culpa nos outros. Por exemplo, nas últimas férias que tive não fiz nada relevante, não saí da cidade. Bom, não foi nada relevante no sentido de legitimar um período de entretenimento, pois usei o tempo para visitar vários médicos cardiologistas para definir com mais autoridade o que eu farei a respeito do meu problema na válvula do coração. E também usei o tempo para cuidar de um problema no olho esquerdo de Charlote. Mas acabei culpando a falta de viagem pelo fato de minha esposa não ter férias junto comigo. Bem injusto.
Fiquei bem chateado com o que aconteceu nas férias e considerando esta perspectiva pré-operatória acho que preciso dedicar melhor meu tempo na organização do meu entretenimento. E botar mais fé nessas escolhas. Por exemplo, abandonei bastante uma coisa que eu gostava muito de fazer que era visitar os lugares underground que aconteciam as festas de música eletrônica. Um pouco por medo, um pouco por desestímulo de minha esposa, passei a não ir mais. E também, por minha alegada falta de dinheiro, affe…